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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O DEDO DE DEUS - UM RELATO DE UMA FAMÍLIA EM TERESÓPOLIS-MARTIUS DE OLIVEIRA

O DEDO DE DEUS - UM RELATO DE UMA FAMÍLIA EM TERESÓPOLIS-MARTIUS DE OLIVEIRA



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(foto - Dedo de Deus - Teresópolis)

Olá Anthonio e Thaís, decidi escrever-lhes pois de certo maneira me vejo envolvido na maior tragédia natural na história do país.

Conheço pessoalmente várias pessoas que perderam inúmeros parentes e amigos na cidade de Teresópolis. Meus pais moram num bairro chamado Alto do Soberbo, logo na entrada da cidade, com uma bela vista da cidade do Rio de Janeiro e do Pico Dedo de Deus. Há muitos anos meus pais já tinham tomado conhecimento das transformações planetárias, através da leituras de Ramatis e Ergon, assim não foi por acaso que escolheram morar a 943 m de altitude, longe da costa, perto de uma via de acesso principal, num local com topografia mais suave, com fonte de água própria. Entretanto, depois do que ocorreu na madrugada do dia 12 de janeiro, tivemos uma conversa séria sobre os acontecimentos vividos e chegamos a conclusões que podem servir de reflexão importante para todos que estão acompanhando este blog.

Já havia chovido durante toda a terça-feira no município de Teresópolis. Nesta mesma tarde faltou energia elétrica em vários bairros da cidade. Neste momento, meus pais perderam acesso a notícias pela TV, rádio e internet. Como já estava escurecendo, pegaram algumas lanternas de LED que eu havia comprado para eles de presente (pois é... trabalhador de luz dá kit de sobrevivência pros pais no Natal... e eles amaram!!!). Elas duram em média 50 horas.

A partir deste momento toda a água de que eles dispunham para usar dependia do que existia na caixa d’água já que bombas de água ficaram inoperantes sem energia elétrica. A partir deste momento tenha em mente que o seu celular está com as horas contadas. A bateria já estava baixa e o celular “morreu” de madrugada.

As 04:00 da manhã as cachorrinhas que dormiam no quintal de casa começaram a latir tanto que meus pais acabaram acordando. Ao abrir os olhos, ainda deitada na cama, minha mãe viu que o quarto estava se iluminando com os flashes dos relâmpagos que riscavam os céus a poucos quilômetros de casa. Assustados, eles pegaram as nossas cadelas, Dodó e Kika, que estavam do lado de fora de casa e as puseram com eles no quarto.

Em menos de uma hora meus pais viram um dilúvio cair em frente deles. Não havia nada a fazer, sem luz, descobriram de madrugada que a linha de telefone fixo também não funcionava. De onde eles moram, geralmente podemos ver toda a cidade mas nesta madrugada tudo que podiam ver era uma escuridão absoluta no vale onde fica a cidade e os riscos dos relâmpagos nos céus.

Amanhece, meus velhos não tem noção de nada do que aconteceu. Nem eles e nem seus vizinhos. Agora, além de não haver eletricidade e não haver telefonia fixa operante em nenhuma das casas, eles também descobrem para seu espanto que a telefonia celular não está operante na área onde moram. É incrivelmente mais fácil você ficar isolado do mundo do que você possa supor!

Há um silêncio sepulcral na estrada federal Rio-Bahia em frente à casa deles. Eles deduzem que houve queda de barreira. Dos poucos carros que vem do centro da cidade de Teresópolis, eles aos poucos vão começando a se inteirar da dimensão do que ocorreu. Todos começam a ficar preocupados com parentes e amigos que moram em regiões presumivelmente atingidas pelos deslizamentos e trombas d’água. Você pode estar absolutamente são e salvo mas isso não significa que você vai sair de uma área de risco se há entes queridos possivelmente precisando de socorro emergencial.

A eletricidade volta por algumas horas, a telefonia fixa é temporariamente restaurada. Pelos noticiários meus pais se inteiram do que realmente aconteceu. Devido ao relevo acidentado com muitas montanhas, Teresópolis forma inúmeras regiões com microclimas. Em alguns locais choveu 50 mm ao passo que em outros houve mais de 300 mm de precipitação devido ao fenômeno de chuva orográfica ou de relevo. Assim, não existe região estável geologicamente se um evento climático extremo atinge o local. Alguns dos bairros que foram literalmente obliterados do mapa eram tidos como seguros pela defesa civil, sobre terreno geologicamente estável.

Meu pai falou de várias ruas que conheço e até de algumas mansões e condomínios de luxo em locais altamente valorizados que simplesmente desapareceram com seus ocupantes. Ponderamos: não tenha apego em relação as suas posses. Tudo o que você acumulou em uma vida inteira pode se desfazer em minutos. Esteja preparado mentalmente para ter que abandonar todo um estilo de vida de uma hora para outra.

Discutimos por mais algum tempo ainda e meu pai me disse que já deixou tudo preparado para abandonar a sua casa em um minuto se necessário for. Ele ponderou: “É importante a gente simplificar a vida. Não ficar com muita tralha e estar disposto a abrir mão de tudo em favor de garantir a sua sobrevivência. E se não houver a menor chance de sobrevivência física entender que a sobrevivência do espírito é o que realmente conta. Saber que isso é um fato e que se o resgate não for possível a nível físico então o deverá ser a nível espiritual. É para isso também que devemos estar preparados. Depois do que estou testemunhando, mais importante do que saber viver é saber para que se vive e entender que a vida espiritual, esta sim é eterna”.

Devemos estar preparados para ter mobilidade e flexibilidade nestes momentos de transição planetária. Saber que devemos manter uma mentalidade dinâmica na nossa relação com o lugar em que vivemos, com o nosso trabalho e até mesmo com as pessoas que nós amamos. Devemos aprender a aceitar as mudanças, aceitar a transitoriedade da vida e estarmos preparados para efetuar mudanças até mesmo de plano de existência quando elas se fizerem necessárias. Como já havíamos lido em textos alhures, "não existem lugares seguros mas pessoas seguras”.

Um beijo no coração de todos.

Namastê

Martius de Oliveira


http://minhamestria.blogspot.com

http://a-casa-real-de-avyon.blogspot.com
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